sábado, 19 de fevereiro de 2011

Conciliar cigarro e atividade física pode aumentar risco, dizem médicos

Imagens do ex-jogador Ronaldo e do lateral-esquerdo Roberto Carlos em festa promovida em sua casa para o lutador de MMA (Mixed Martial Arts) Anderson Silva, na noite desta quinta-feira (17). (Foto: José Mariano/AE)
Fazer atividades físicas está longe de ser suficiente para compensar os danos causados pelo tabagismo. E esse fato, atestado por médicos, não pode ser contornado nem por esportistas profissionais, como o ex-jogador Ronaldo e o lateral-esquerdo Roberto Carlos, fotografados fumando em cenas divulgadas na sexta-feira (18).
A médica pneumologista Elnara Negri, do Hospital Sírio-Libanês, alerta para o risco de o fumante se enganar com uma suposta compensação trazida pela atividade física. “O exercício moderado pode até combater os radicais livres, protegendo um pouco o corpo contra as lesões trazidas pelo cigarro”, afirma. “Mas isso é muito pouco, com o tempo o efeito do fumo passa a ser muito mais intenso”, alerta
.lutador Paulo deyllot (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

Faixa marrom de jiu-jitsu, o empresário Paulo Deyllot, de 40 anos, faz exercícios desde os 15 anos e concilia uma rotina de atividades físicas com o tabagismo. Foi praticante de fisioculturismo, corrida, musculação e há 7 anos é um fanático por artes marciais. “Sou suspeito para falar porque sempre pratiquei exercícios e também fumo, desde os 16 anos. A atividade física tira a vontade de fumar”, diz Deyllot, que é proprietário de uma academia de ginástica no centro de São Paulo.
O empresário admite que o cigarro tira as energias – ele fuma um maço por dia. “Fumar na academia não dá. Fumo sempre à tarde e à noite, nos intervalos”, acrescenta ele. “Qualquer atividade física ajuda os fumantes a reduzir a quantidade de cigarro, tira a ansiedade. Mas o jiu-jitsu me ajuda muito, caso contrário eu fumaria mais”, desabafa ele.
Em plena Avenida Paulista, o engenheiro Oswaldo Câmara, de 59 anos, fumava um cigarro após o almoço no início da tarde desta sexta-feira (18). Mas ele diz que faz caminhadas de uma hora todos os dias, “para reduzir o cansaço e o estresse”.
“Caminho sempre à noite, na rua mesmo. Como passo viajando, não tenho como ir todos os dias à academia. Mas a caminhada me ajuda a ter mais energias”, diz o engenheiro. “Na minha idade e fumante, eu tenho que me preocupar com a saúde e fazer atividade física”, acrescenta Câmara.
engenheiro (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Especialistas alertam para riscos
Antes ou depois das práticas esportivas, o fumo traz prejuízos, especialmente à capacidade de aproveitamento da respiração, condição necessária para o bom rendimento das atividades. “Quando você fuma e logo em seguida faz exercício físico, isso é desastroso, pois a sua pressão arterial aumenta. Para quem tem problema de hipertensão pode levar a complicações”, explica a médica Elnara.
O cigarro é também um fator de risco para doenças coronarianas. Por isto, quem fuma há anos e resolve praticar atividades físicas está exposto ao risco de infarto. “Antes de começar a fazer atividade física, (o fumante) precisa fazer um check-up cardiovascular e pulmonar completo”, recomenda Elnara. Caso os exames mostrem que o paciente está apto, ele pode se exercitar  com níveis graduais de esforço, acompanhado de um especialista.
De acordo com o médico do esporte e fisiatra Mário Sérgio Rossi Vieira, o cigarro piora o rendimento tanto de atletas profissionais quanto de pessoas que praticam exercícios físicos regularmente. “O cigarro vai afetar entre 20% a 30% da capacidade cardiovascular do fumante”, explica o especialista do Hospital Albert Einstein.
Mário Sérgio alerta que nem mesmo quem fuma só depois dos exercícios escapa dos danos ao corpo. “Cigarro depois de exercício físico é perigoso, você está respirando de maneira forte e acaba inalando uma substância altamente tóxica.”
Fumar também leva a uma diminuição do muco no sistema respiratório. A substância protege o organismo contra agentes infecciosos como bactérias, vírus e partículas suspensas no ar poluído.
O cigarro ainda pode levar ao endurecimento de vasos sanguíneos, fenômeno que aumenta a pressão arterial, e ao surgimento de aterosclerose - placas de gordura que aparecem na parede de artérias e veias.
Atletas em risco
A médica pneumologista Elnara Negri explica que o dano do cigarro ao corpo também é notado na destruição das membranas que envolvem as células do corpo e na alteração do DNA. São sintomas conhecidos como estresses oxidativos.
Segundo Elnara, atletas de alto rendimento como maratonistas podem ter a saúde comprometida pelo fumo, pois o estresse oxidativo é piorado. “São pessoas que já têm um envelhecimento mais precoce. Com a ação do cigarro, a destruição do corpo é potencializada.”
Na avaliação do médico do esporte e fisiatra Mário Sérgio, entre atletas de alto rendimento fumar é algo que se faz escondido. “Na minha experiência prática, eu raramente vejo um atleta sendo um fumante rotineiro”, afirma Mário. “Eles podem fumar no final de semana, esporadicamente, quando a gente não pode fiscalizar, mas é muito raro entre os atletas sérios.”

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