domingo, 2 de janeiro de 2011

RETROSPECTIVA 2010 - Mundo bacteriano

Fabricada a primeira bactéria sintética 
 Com DNA montado totalmente a partir de informações vindas de computador, ela ganha vida e passa a se replicar 



Micrografia eletrônica mostra as primeiras células de Mycoplasma mycoides: vida inteiramente baseada em código genético sintetizado por cientistas
 

A primeira bactéria a viver exclusivamente graças a um código genético sintetizado pelo homem começou a se multiplicar em um laboratório no Instituto J. Craig Venter (JCVI). Venter e seus colegas usaram um genoma sintético da bactéria Mycoplasma mycoides, de acordo com relatório publicado on-line pela Science
"Essa é a primeira célula autorreplicante do planeta a ter um computador como um pai", declarou J. Craig Venter, durante uma conferência de imprensa. "É também a primeira espécie a ter um website com seu código genético.” 
Nos últimos 15 anos, os genomas de milhares de organismos já foram seqüenciados e depositados em bancos de dados. "Chamamos isso de digitalização da biologia", explica Daniel Gibson, biólogo molecular do JCVI à Scientific American. "Nós mostramos ser possível sintetizar material genético a partir de informações digitalizadas. Chamamos a célula que criamos de sintética, pois é controlada por um genoma montado a partir de pedaços de uma síntese química de DNA." 
Quanto às primeiras células sintéticas, que agora estão adormecidas em um freezer no JCVI, Venter afirmou que “se houver um museu de células, podemos doá-las. Se precisar, podemos descongelá-las e elas iniciarão a replicação novamente". 
O fato de a vida ser criada em um laboratório levanta preocupações, incluindo o risco de essa forma sintética sair do controle e exterminar seus primos naturais ou infectá-los com o DNA sintético, através da transferência horizontal de genes. Vários métodos para evitar isso têm sido sugeridos, incluindo a criação de seqüências genéticas que não possam existir na natureza ou restringir o elemento vital ao laboratório. 
Afinal, os cientistas do JCVI "estão prontos para construir organismos diferentes", diz Gibson. "Nós gostaríamos de usar informações de seqüenciamento disponíveis e criar células que podem produzir energia, produtos farmacêuticos, compostos industriais e seqüestrar dióxido de carbono". 
Na verdade, Venter espera usar as técnicas para começar a sintetizar vacinas antivirais no prazo de dias, e não em semanas ou meses. "Temos um financiamento em curso com os Institutos Nacionais de Saúde para realizar um programa com a Novartis para usar essas novas ferramentas de DNA sintético e talvez produzir a vacina da gripe no ano que vem”, disse Venter. Também está previsto desenvolver vacinas para vírus que se livram dos medicamentos graças à sua habilidade de sofrer mutações rapidamente, tais como o rinovírus (resfriado comum) e o HIV (aids). 
Combater os genomas de vírus mais complexos continuará sendo uma tarefa difícil, por isso muitos pesquisadores vão se concentrar em tentar criar o genoma mais simples possível, que ainda possa permitir a vida. "Isso vai nos ajudar a entender a função de cada gene em uma célula e que o DNA é necessário para sustentar a vida até em sua forma mais simples", disse Gibson.

Bactéria encontrada no solo pode aumentar inteligência


Gostaria de aumentar sua inteligência? Pois saiba que uma pesquisa americana concluiu que a simples exposição a uma bactéria encontrada no solo, a Mycobacterium vaccae, poderia aumentar a capacidade de aprender.

Estudos anteriores mostraram que, quando injetado morto em ratos, esse micro-organismo elevou os níveis de serotonina e diminuiu a ansiedade. Com base nisso, os pesquisadores Dorothy Matthews e Susan Jenks decidiram avaliar se interferia também no aprendizado, já que a serotonina desempenha um papel importante nesse aspecto.

As cientistas alimentaram alguns camundongos com as bactérias vivas e analisaram a capacidade deles de percorrer um labirinto em relação a um grupo controle de animais, que não recebeu a Mycobacterium vaccae. E eles realmente se saíram melhor. Concluíram o percurso duas vezes mais rápido e demonstraram menos comportamentos de ansiedade.
Na etapa seguinte, as bactérias foram retiradas da dieta e, os roedores, testados novamente. .Embora tenham concluído o labirinto de maneira mais lenta que no primeiro experimento, ainda eram mais velozes que os de controle.
A prova final aconteceu após três semanas de descanso. Os ratos que haviam se alimentado com Mycobacterium vaccae para o primeiro teste se mostraram mais ágeis de novo, mas os resultados não eram estatisticamente significativos, o que sugere um efeito temporário.
As pesquisadoras disseram ao site Science Daily que as pessoas provavelmente ingerem ou inalam essa bactéria quando passam algum tempo em contato com a natureza e que o estudo indica que ela pode influenciar na ansiedade e no aprendizado de mamíferos. Acrescentaram ainda que seria interessante que as escolas incluíssem atividades em ambientes externos onde a Mycobacterium vaccae esteja presente.
Os dados foram apresentados no 110° Encontro Geral da Sociedade Americana de Microbiologia, em San Diego, nos Estados Unidos, que ocorreu de 23 a 27 de maio.  

Cientistas usam salmonela para combater câncer


Cientistas descobriram que a bactéria que causa a doença salmonela pode provocar uma reação imunológica que mata células cancerígenas, o que pode levar à criação de vacinas de células imunológicas para serem injetadas em vítimas do câncer.
"Fizemos experimentos primeiro em ratos e depois em células com câncer e células imunológicas de pacientes humanos, e descobrimos que a salmonela estava fazendo exatamente o mesmo trabalho", disse por telefone Maria Rescigno, do Instituto Europeu de Oncologia, de Milão, que participou do estudo.
"Agora estamos prontos para passar aos (testes com) humanos, mas estamos esperando autorização." O estudo, feito por cientistas da Itália e dos Estados Unidos, foi publicado nesta quarta-feira na revista Science Translational Medicine.
A pesquisa examinou células com melanoma, o tipo mais letal de câncer de pele, para o qual há poucos tratamentos eficazes, e nenhum que leve à cura. Mas Rescigno disse que o método deve funcionar também contra outros tipos de tumor.
Segundo os cientistas, a bactéria salmonela, se usada de forma segura, não causa a doença. Ela na verdade marca as células cancerígenas, que são então localizadas e mortas pelo sistema imunológico do organismo.
Em estágios iniciais do câncer, uma proteína chamada connexin 43 "marca" as células para o sistema imunológico, mas com o desenvolvimento da doença o processo se torna ineficiente.
A equipe descobriu que a salmonela aumentava a quantidade de connexin 43 nas células doentes de ratos e nas amostras de tumores humanos. Isso permitia que o organismo combatesse a doença, e impedia sua difusão para outras partes do organismo dos ratos, segundo Rescigno.
O resultado sugere, segundo ela, que no futuro poderá existir uma espécie de "vacina" contra o câncer. A pesquisa é parte de uma linha de tratamento relativamente nova, a das drogas imunoterápicas - que se valem do sistema imunológico do organismo para combater a doença.
Em abril, as autoridades dos EUA aprovaram o uso comercial da vacina terapêutica Provenge, do laboratório Dendreon, que estimula o sistema imunológico a atacar o câncer de próstata. É a primeira vacina do mundo destinada a tratar tumores. 

Superbactéria KPC - Klebsiella pneumoniae carbapenemase



SUPERBACTÉRIA KPC – Recentemente foi descoberta uma nova bactéria chamada de Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase, mais conhecida por KPC, que começou a se espalhar em alguns pontos do Brasil. Considerada uma "super bactéria", ela tem levado várias pessoas à morte devido a sua infecção.
Alguns estados onde a presença da KPC já foi confirmada é o Distrito Federal, e a Bahia, onde a filha do cantor Beto Barbosa morreu após uma provável infecção dessa bactéria, ainda a ser confirmada. A KPC não possui muitos detalhes até o momento, mas os especialistas na área da saúde estão debatendo sobre a forma que ela se espalha, e sua relação com infecções hospitalares.
Segundo especialistas, a KPC consegue produzir uma enzima que destrói praticamente todos os antibióticos conhecidos, inclusive os carbapenêmicos, considerada a última geração dos antibióticos, e o tornando em uma grande ameaça.
Por enquanto, medicamentos que conseguem combater a KPC são altamente tóxicos, e um tratamento não é recomendado. A saída para derrotar a KPC é a criação de novos medicamentos. Podendo causar infecção generalizada, a KPC possui sintomas de uma infecção comum, com febre, dores na bexiga ou tosse.

Pesquisadora: nova bactéria pode ser forma primitiva da vida


A astrobióloga do Centro Goddard, da Nasa, Pamela G. Conrad, acredita que a nova forma de vida descoberta por cientistas americanos pode ser uma espécie de vida primitiva, uma das primeiras "tentativas" para os seres vivos que se desenvolveram depois. Pamela esteve presente no anúncio oficial da descoberta, na quinta-feira, na sede da Nasa. Em entrevista ao Terra, a astrobióloga afirma que nas primeiras biomoléculas, tanto o DNA quando outras moléculas básicas dos seres vivos, podem ter "experimentado" diversos elementos químicos para sua formação básica.
"Por exemplo, o composto de arsênio não é apenas o metal arsênio, mas é arsênio com oxigênio. Chamamos de arseniato. É muito menos estável quimicamente do que o típico grupo de elementos químicos que se encontra no DNA, chamado fosfato. Portanto, é possível que tenhamos começado por fazer biomoléculas com elementos químicos instáveis como o arseniato e outros. Mas, conforme as moléculas foram aleatoriamente formadas, se degeneraram, e foram novamente formadas, aquelas com elementos mais estáveis foram as que persistiram. Assim, é possível que este micro-organismo seja uma molécula mais primitiva. Mas pode ser uma de muitas", disse a pesquisadora.
A bactéria descoberta pelos pesquisadores é considerada diferente de todos os demais seres vivos conhecidos. Carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre são os seis elementos básicos de todas as formas de vida na Terra. Fósforo é parte da estrutura do DNA e do RNA, as estruturas que transportam as instruções genéticas da vida e é considerado um elemento essencial para todas as células vivas. A bactéria encontrada tem no lugar do fósforo o arsênio, um elemento químico tóxico para os demais seres vivos.
Questionada se os pesquisadores criaram ou alteraram de alguma forma a bactéria, Pamela diz que não. "Ninguém criou nada novo. É algo que já existia neste lago incomum e foi agora observado. Nada foi alterado, foi apenas observado algo que já existia na natureza."
Segundo a Nasa, a descoberta amplia o escopo de busca por vida fora da Terra e vai mudar os livros de Ciência. "Ao procurarmos por vida, tentamos reconhecer a química e a estrutura que basicamente definem a vida. (...) Há seis elementos que normalmente vemos associados à vida: hidrogênio, carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Estes seis elementos são universalmente constantes na vida. Mas, quando vemos um organismo com um elemento como o arsênio, pensamos que o arsênio é tóxico e, portanto, provavelmente, não pode haver vida. A partir de agora, quando vermos arsênio, teremos de pensar que pode haver um tipo de vida que use esse elemento químico", diz a astrobióloga.
Por outro lado, teorias já indicavam a possibilidade de que outros elementos químicos poderiam se combinar para formar vida. "A novidade é que agora temos algo específico que podemos observar, e podemos tentar aprender com a estratégia que esse tipo de vida usa a fim de determinar que tipo de caminhos químicos ela pode usar para processar o que está disponível no meio ambiente."
"Nunca havíamos observado algo que incorporasse um elemento químico alternativo ao DNA, a molécula que grava instruções para que os organismos se reproduzam. Se o que foi descoberto se provar estável e pudermos observar isso de forma reproduzível, veremos que esse tipo de molécula não é tão exclusiva, e que talvez possa incorporar outros elementos químicos. Portanto, ao estudarmos poderemos ver os métodos pelos quais as biomoléculas usam outros elementos, o que pode nos proporcionar ideias para maneiras diferentes de procurar por vida", diz a pesquisadora.
Pamela descarta a possibilidade de que a bactéria tenha origem extraterrestre, já que tem várias semelhanças com outros seres na Terra. "Não é um organismo que é feito de algo diferente, mas que incorpora algo que é geralmente tóxico. (...) A diferença é que ele é capaz de sobreviver à presença deste metal tóxico (o arsênio)".
Sobre a possibilidade de o organismo ter uma origem diferente das demais formas de vida da Terra, ela também acha improvável, "mas é difícil saber com certeza". "A maneira pela qual sabemos isso é estudando a composição química hereditária, o DNA, e daí vemos o quão parecido o organismo é com outros micróbios. O organismo descoberto é suficientemente semelhante a outros micróbios, portanto temos bastante certeza de que a sua origem é terrestre", diz.

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