quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

KPC não é mais mortífera que outras superbactérias


Cultura de bactéria Klebsiella pneumoniae em uma placa de Petri
Cultura de bactéria Klebsiella pneumoniae em uma placa de Petri 

Desde 2003, soldados americanos que sobreviveram a graves ferimentos no Iraque tiveram que enfrentar um inimigo ainda mais mortal quando retornaram aos Estados Unidos. Debilitados por cirurgias e entupidos de antibióticos, se tornaram presas fáceis para bactérias que atacam justamente pessoas com problemas graves de saúde. No caso americano, a responsável foi aAcinetobacter baumannii, que contaminou 700 soldados entre 2003 e 2007. Agora é a vez do Brasil enfrentar um surto de KPC, superbactéria que matou uma pessoa no Paraná e 18 no Distrito Federal, e infectou  outras 22 em mais quatro estados.
Ambas as bactérias, é bom frisar, são do tipo oportunistas, que atacam geralmente pessoas com um quadro de saúde complicado, agravado por alguma doença. As vítimas preferidas são pessoas gravemente feridas, ou que estão internadas em UTIs, submetidas a vários procedimentos de caráter invasivo. As pessoas que morreram no Brasil enquadram-se neste perfil. Quem está saudável não corre riscos significativos e pode até acompanhar e visitar pacientes infectados.
A KPC é a abreviatura de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase. A KPC ganhou este nome porque a Klebsiella, uma bactéria antes comum, passou a produzir uma enzima (carbapenemase) capaz de anular medicamentos como penicilina, cefalosporinas e as carbapenemas. 
Isso acontece porque toda bactéria possui uma estrutura genética móvel, chamada plasmídeo, que é capaz de se transferir de uma bactéria para outra. Depois de receber este código genético, a antes inofensiva bactéria Klebsiella passou a resistir aos remédios, por mais poderosos que fossem. É como se o mesmo vírus de computador pudesse infectar Macs e Pcs. 
Histórico — Embora este ano esteja fazendo mais vítimas no Brasil, a KPC, pode-se dizer, é uma velha conhecida. Foi descrita e isolada pela primeira vez em um hospital da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em 2001.  O primeiro surto aconteceu em agosto de 2003, em Nova York. No total, 47% dos pacientes afetados morreram. 
De Nova York, a bactéria foi registrada em outros sete estados americanos e em pouco tempo já estava circulando por Israel, China e França. Em 2005, foi registrado o primeiro caso no Brasil. A esta altura, o gene capaz de dar resistência à bactéria já havia sido transmitido para outras bactérias antes inofensivas, como as pseudomonas, a Enterobacter e a Escherichia coli. Estes tipos de bactérias são tão ou mais prevalentes no Brasil e no mundo que a própria KPC. E matam mais, também. Ou seja, a KPC não é algo incomum no Brasil nem no resto do mundo.
Precauções — As superbactérias serão atacadas no Brasil principalmente em duas frentes. A primeira é tentar diminuir a comercialização indiscriminada de antibióticos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai estabelecer uma nova norma obrigando as farmácias a reterem uma cópia da receita médica quando vender antibióticos. As embalagens dos remédios também vão mudar. “A venda sem prescrição representa mais um elemento que pode agravar o aparecimento de microrganismos resistentes aos antibióticos”, afirma Dirceu Barbano, diretor da Anvisa.
A segunda é tentar acabar com a disseminação dentro dos hospitais, principais focos das infecções. Os hospitais serão obrigados a colocar álcool em gel em salas onde há pacientes e em cada quarto. Depois de publicada a norma, os estabelecimentos terão 60 dias para se adaptar.
Mais difícil é fazer cumprir a norma que obriga estados e municípios a notificarem todos os casos de microrganismos multirresistentes, não só a KPC. “Se não notificar, não tem remédio”, diz Barbano.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Usos das células-tronco vão da aids à dor de dente

Muito versáteis, as células-tronco seriam opção para o tratamento de vários problemas no futuro. Foto: AFP

Em 2011, a USP pretende inaugurar o laboratório para obtenção de células-tronco a partir de dentes de leite. Entre os objetivos da pesquisa está o uso de células dentais para regenerar tecidos não dentais. "Poderíamos usar células-tronco dentais para reparar lesões cardíacas ou oculares", diz Andrea Mantesso, coordenadora do projeto. Os pesquisadores também buscam a formação de um dente inteiro no laboratório e a engenharia tecidual de partes especificas, onde seria possível reparar a gengiva perdida após uma doença periodontal.
Muito versáteis, as células-tronco seriam opção para o tratamento de vários problemas no futuro, com usos que vão da aids à dor de dente. "Falando de forma bem abrangente, elas poderão ser usadas para tratamento de lesões degenerativas em diferentes tecidos do corpo humano, sequelas de acidentes, alguns tipos de câncer, lesões ulcerativas em pele e outros órgãos e para produção de células especializadas", explica Mantesso.
Células embrionárias x Células adultas
Recentemente, o assunto voltou à imprensa por ocasião do nascimento do filho da atriz Juliana Paes, que optou por armazenar células-tronco do cordão umbilical do seu bebê. E enquanto células-tronco adultas já são amplamente usadas para tratamento de doenças hematopoiéticas, como leucemias, a pesquisadora não acredita que um dia não precisaremos mais das células embrionárias, por elas serem mais potentes que as células adultas. "Isso significa que elas podem formar mais tecidos e com melhor produtividade. Mesmo quando reprogramamos as células adultas para que elas se comportem como células embrionárias, a taxa de sucesso desses experimentos ainda é baixa e eles são bem complexos de serem realizados", diz.
Ainda assim, um estudo feito por médicos alemães mostra que um transplante de células-tronco teria curado um portador do virus HIV, três anos depois de realizado o procedimento, em 2006. O paciente, um homem americano na casa dos 40 anos, soropositivo há mais de dez, procurou tratamento para leucemia mielóide aguda, uma forma letal de câncer no sangue.
A idéia veio quando o médico do paciente, Gero Hutter, pensou na possibilidade de realizar um transplante de medula utilizando como doador o portador de uma rara mutação genética que o torna naturalmente resistente ao HIV. O suposto sucesso do transplante ainda é questionado por grande parte da comunidade médica, que espera confirmar os resultados dentro de dez anos.
Os resultados positivos do uso de células tronco adultas não desencoraja a pesquisa com o material embrionário. Para Andrea Mantesso, "os cientistas insistem nas células embrionárias porque elas têm um potencial imenso e ainda nem sabemos tudo que essas células podem nos proporcionar, mas já sabemos que elas são muito versáteis. Então, precisamos estudá-las em profundidade para poder não só entender seu verdadeiro potencial, mas também para entender sua natureza e comportamento. Essas respostas serão importantes tanto na área de células tronco, como também para melhor esclarecimento sobre o desenvolvimento humano, envelhecimento e várias doenças", conclui.