quarta-feira, 16 de março de 2011

Especialistas dizem que é cedo para saber alcance de contaminação

Foto de satélite feita nesta quarta-feira (16) pela DigitalGlobe mostra a usina de Fukushima Daiichi. Vapor pode ser visto saíndo dos reatores 2 e 3. Também podem ser vistos danos nos reatores 1 e 4 e em outros prédios. (Foto: AP)

O risco de vazamento radioativo na usina de Fukushima Daiichi preocupa, mas ainda é cedo para precisar exatamente por quanto tempo e até onde a contaminação vai se estender. Quatro dos seis reatores nucleares da central já apresentaram problemas, afetados pelo terremoto da última sexta-feira (11), de magnitude 9, e pelos tsunamis que se seguiram. As autoridades impuseram um isolamento num raio de 30 km do local.
Cientistas explicaram que ainda é muito difícil ter uma noção do alcance geográfico das consequências do acidente, por falta de dados. O primeiro passo é controlar os reatores em Fukushima para evitar o vazamento do material. Só então, equipes farão a análise e medirão os efeitos do acidente sobre a região. Os moradores não serão levados de volta até que as autoridades considerem que não há mais contaminação no local.
“Isto vai depender da extensão da pluma (fumaça expelida no vazamento ou na explosão), da quantidade de material radioativo liberado e das condições ambientais e meteorológicas”, explica Matias Puga Sanches, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Nucleares e Energéticas (Ipen) e membro da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
Alcance
É difícil precisar até onde podem chegar os vestígios do material radioativo que vier a entrar na atmosfera, pois há muitas variáveis.
Fatores como a intensidade e a direção dos ventos e a quantidade de chuvas influem para determinar para onde vai o material radioativo. “Em todas as centrais nucleares, há torres meteorológicas justamente para fazer estes cálculos. Provavelmente, a decisão de isolar 30 km é em função desses cálculos”, afirma Sanches, para quem o Japão é o país mais preparado para lidar com acidentes desta proporção em todo o mundo.
Em caso de vazamento, o material fica suspenso na atmosfera na forma de gás. Ele pode descer junto a precipitações naturais – chuva, neve –ou se condensar e cair. Ao se depositar, ele contamina o solo ou a água.
“Se o solo absorver material radioativo, ele não pode mais ser reaproveitado. No mar, a diluição é muito grande e o dano causado será, com certeza, menor”, afirma Aquilino Senra, professor do programa de engenharia nuclear da pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele afirma ainda que quando há liberações controladas de gás radioativo, isso é feito quando o vento toca para o mar, para reduzir o risco de contaminação do solo.
Ainda assim, Alessandra Larissa Fonseca, doutora em oceanografia e professora do departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem ressalvas quanto à poluição do mar. “A primavera (que começa no Hemisfério Norte na semana que vem) é um período de alta produção primária, ou seja, é quando as algas absorvem mais nutrientes”, aponta. Isto aumentaria o risco de que algum material radioativo entrasse na cadeia alimentar.
NívelDenominação
1anomalia
2incidente
3incidente sério
4acidente com consequências locais
5acidente com consequências maiores
6acidente sério
7acidente máximo
Escala INES
Para Matias Puga Sanches, não há motivos para classificar o evento em Fukushima como de nível 6 na escala INES, como foi sugerido pela autoridade francesa.
“No caso do Japão, não houve mortes por conta da radiação. Mas como quatro reatores foram comprometidos, a avaliação foi elevada ao nível 4, por precaução”, afirma o especialista. “Nesse nível, as consequências são locais, com apenas 0,1% do material do núcleo do reator sendo liberado para a atmosfera”.
Elaborada desde 1989, a Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (INES, na sigla em inglês) foi criada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para facilitar a compreensão do público e da mídia sobre a gravidade de acidentes nucleares.
A escala vai de 1 a 7, sendo o último nível usado apenas para classificar o acidente em Chernobyl, na Ucrânia, no ano de 1986. Do número 1 ao 3, a escala trata dos incidentes que não representam risco à população local. De 4 para cima, ocorre o vazamento de material radioativo para atmosfera e a possibilidade de mortes por conta da radiação.
Três critérios são usados para montar a escala: o impacto do evento em pessoas e no meio ambiente, nas barreiras radiológicas e de controle disponíveis no local e na defesa em profundidade – termo para as medidas preventivas criadas para controlar o perigo de instalações nucleares.
Como explica Laércio Antônio Vinhas, diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da Cnen, a escala é usada para avaliar as possíveis conseqüências de um desastre como o ocorrido em Fukushima, mas não está baseada em grandezas físicas como as escalas Richter (para abalos sísmicos) e Celsius (para temperatura).
“Sempre que acontece qualquer evento fora do normal, essa escala é usada.” Afirma Laércio, que participou do grupo que elaborou a escala no início da década de 1990. “Ela leva em conta fatores como o grau de degradação da instalação, a quantidade de material radioativo que pode ser liberada e a área passível de ser contaminada”.
Como funciona um reator nuclear de água fervendo (BWP) (Foto: Arte/G1)Como funciona um reator nuclear de água fervendo (BWP) 

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